segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Determinismo e Livre-arbítrio


Até que ponto estamos irremediavelmente condicionados aos fatores determinantes da vida? Se é que existe livre-arbítrio, quais são as possibilidades de exercê-lo plenamente? Até onde vai minha capacidade de decidir?
“De hoje em diante, eu decido que não vou mais adoecer nem envelhecer; e também não quero morrer”. Bobagem... Ninguém tem tal poder de decisão e querer. Isso não passa de uma tolice e absurdo. A realidade da vida é mais complexa. Existem regras no jogo da vida que são impossíveis de serem burladas. Querendo ou não somos obrigados a aceitá-las.
Nesta vida, “caímos de pára-quedas” numa família “X”, que absolutamente não escolhemos, num meio ambiente social e econômico igualmente sem escolha, num lugarzinho específico nesse planeta. Recebemos um corpo frágil e vulnerável, com uma capacidade sempre aquém do que no fundo gostaríamos. E alem disso, estamos envolvidos com compromissos e responsabilidades impossíveis de serem descartados. Em suma, existem tantos fatores deterministas, sem chances de escaparmos deles. Onde entra então o livre-arbítrio?
Para muitas pessoas, o livre-arbítrio restringe-se às escolhas triviais. O super-mercado, por exemplo, é um campo imenso de escolhas_ a marca do sabão em pó, o tipo de xampu, manteiga com sal ou sem sal, mais barato (com menor qualidade) ou mais caro (aparentemente melhor qualidade), e por aí vai. A impressão que fica é que nosso livre-arbítrio é muito limitado e nunca será capaz de resolver os grandes problemas de nossa vida.
Outro exemplo é um vôo internacional. Temos que cumprir com tantos requisitos e imposições, que sobra pouquíssimo para exercermos alguma liberdade e criatividade. Horários rígidos, passaportes, vistos, limitações de bagagem. Os espaços no avião são exíguos. Temos que nos manter sentados e afivelados. Que liberdade temos? Talvez os míseros dez centímetros de inclinação da poltrona na classe econômica (mesmo assim fora do período da decolagem e aterrissagem) e algumas outras limitadas e reduzidíssimas possibilidades de ação durante o vôo...
Onde então entra nosso livre-arbítrio nesse cenário? Ah!... Definitivamente, a prerrogativa do livre-arbítrio está presente e foi exercido num elevado e importante grau ao decidirmos pessoalmente sobre o destino nessa viagem. O destino escolhido é a decisão mais importante. Tudo mais é circunstancial. A partir dessa decisão, nós nos submetemos voluntariamente a todos esses inconvenientes inerentes às longas viagens intercontinentais. Atingir o destino escolhido compensa todos os inevitáveis sacrifícios.
A mesma idéia pode ser aplicada no ciclo de vida que vivemos. Apesar de todos os fatores determinantes da vida, todos nós temos a oportunidade de direcionar nossa vida, tanto para o bem quanto para o mal. Se optamos para o bem, devemos estar cientes dos obstáculos e dos inconvenientes pela frente. Mas a meta final deve estar sempre bem definida para não desviarmos durante a caminhada.
No tratado espiritual Bhagavad-gita, já no final do livro, Krishna disse ao seu amigo Arjuna: “Eu te passei todo esse conhecimento que é muito confidencial. Poucas pessoas estão preparadas para recebê-lo. Agora é contigo. Ou aceitas ou rejeitas”. Aqui fica demonstrado claramente o papel do livre-arbítrio. O mais elevado uso do livre-arbítrio é optar por uma vida boa e rejeitar a vida ruim. Vida boa é auto-realização e auto-aperfeiçoamento.


A divindade que há em mim reverencia a divindade que há em você. Namaste